sexta-feira, 16 de maio de 2014

“Negro sujo!”

Descrição para cegos: a imagem mostra o rosto de um homem negro e uma mão branca na frente do seu rosto.
Foto: Pixabay
Não sou negra, mas venho de uma família de negros e brancos, e apesar de nunca antes ter testemunhado um ato de racismo, o tema sempre me chamou atenção - talvez com menos importância que hoje. Nunca consegui entender porque as pessoas se importam tanto com a cor da pele, até o dia em que vi um rapaz ser humilhado em seu ambiente de trabalho, apenas por não ter nascido branco. O título deste texto foi retirado da boca de uma senhora, a qual é a “inspiração” deste escrito.
Aos berros a mulher xingava o cobrador, por ele não ter permitido que ela entrasse e saísse de um terminal de integração sem pagar outra passagem. Ele tentava explicar que foi a ordem que recebeu e que se ela insistisse, a passagem sairia do seu bolso e ele seria prejudicado. Nesse exato momento comecei a perceber que ela não estava com raiva do funcionário, mas do negro que “cruzou” o seu caminho naquela noite. “Negro, sujo! Negro devia não ter emprego, porque não sabe trabalhar. Só nasceu pra ser escravo mesmo”, gritava a mulher.
Além da raiva que tomou conta de mim, senti uma enorme vergonha. Vergonha por ser branca, vergonha por não ter feito nada no momento, vergonha por sentir pena do rapaz, vergonha por pertencer a essa sociedade que aceita o negro, que tem amigos negros, contanto que não estejam em suas famílias.
Hoje percebo que o rapaz não precisa da minha pena, não precisa da minha vergonha. Os negros precisam sim, que eu entenda o preconceito que me rodeia, entenda que o racismo tem que ser combatido, que o negro não era escravo, mas foi escravizado.
Minha função é retirar as cortinas que encobrem as janelas do racismo, e eu começo por esse texto.
Poliana Lemos

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