sábado, 10 de maio de 2014

Discriminação racial: Percepções de quem sente na pele

Descrição para cegos: a imagem tem duas faixas menores nas cores amarelo e vermelho, e uma maior de cor preta. Dentro da última, destaca-se a seguinte frase, em branco: "Alisei meus cabelos dos 15 aos 23 anos e sempre tive vergonha da forma como ele era".
                                           Foto: Thais Vital

“Alisei meus cabelos dos 15 aos 23 anos e sempre tive vergonha da forma como ele era, achava-o feio e as pessoas sempre reforçaram isso”. Foi assim que a nossa conversa começou. Num tom que variava entre a revolta e a decepção. Com uma infância marcada pela discriminação racial, R. Silva luta contra o racismo diariamente, seja na universidade ou na conversa entre amigos.
Com os dedos timidamente enrolando os pequenos cachos do cabelo, o rapaz de 24 anos, estudante de Letras na Universidade Federal da Paraíba, revelava o sentimento de tristeza ao relatar as atitudes discriminatórias sofridas desde os 10 anos de idade. “Uma vez fui ao supermercado e o gerente pediu que me revistassem desconfiando que eu havia roubado algo do estabelecimento, mesmo que eu não demonstrasse nenhuma ação que justificasse a atitude dele”, comenta com um tom de revolta.
 Entre comentários sobre a cordialidade do racismo brasileiro, R. Silva revelava que se sentia envergonhado por ter o cabelo crespo e que resolveu alisá-lo para fugir dos apelidos que tanto estigmatizam essa característica afrodescendente. “A mídia, meus amigos, minha família e a sociedade como um todo sempre apontaram o cabelo liso como algo essencial, em termos de beleza”, justifica.
Ao ser questionado sobre como ele se sente hoje, o estudante muda totalmente de expressão e abre um sorriso acanhado que denota uma elevada autoestima: “Hoje eu me amo! Sinto-me uma pessoa bela, com o nariz, com o cabelo, com a boca e com a cor que eu possuo. Uma pessoa bela pelas particularidades que eu tenho!”, descreve-se sorrindo.

Jornalisticamente eu não deveria me meter, mas como o texto é meu e esse rapaz me representa enquanto cidadão negro, expresso aqui a minha indignação e vergonha por pertencer a uma sociedade suja e racista que não respeita ao menos os cachos dos nossos cabelos afro-descendentes!

Thais Vital

3 comentários:

  1. Excelente, o texto e a iniciativa desse blog! Espaço importante de debate, conscientização e de fomento ao jornalismo ético, voltado à cidadania e aos Direitos Humanos. Parabéns aos professores e alunos!

    ResponderExcluir
  2. Adorei o Blog, e Thais, vc arrasa! Seguindo em 3, 2, 1... #Rica.

    ResponderExcluir

Seu comentário será publicado em breve.