sábado, 6 de abril de 2019

O esporte como ferramenta na luta contra o racismo

Descrição para cegos: Registo de Jackie Robinson em uma partida, vestido com seu uniforme do Dodgers com um taco levantado na mão.
Por Sofia Debbaudt

       O debate sobre o racismo e discriminação continua em pauta no noticiário esportivo. Pois episódios de fortes ofensas e humilhações racistas, como as sofridas pelos jogadores Boateng em 2013, Daniel Alves em 2014, pelo meio-campista Fernandinho em 2018 na Copa do Mundo e pela judoca Rafaela Silva em 2012 nas Olimpíadas, são ainda frequentes.
       Hoje, vamos falar sobre o racismo sob a perspectiva história e como o esporte foi e é uma ferramenta para vencer a discriminação racial. É importante sabermos que o esporte influencia na cultura e na política de países e por meio dele fenômenos e mudanças sociais acontecem.
       Um filme que ilustra bem esse ponto de vista é “42: A história de uma lenda”, narrando a chegada do primeiro jogador de baseball negro na Liga Nacional dos Estados Unidos. O filme se passa na pós-Segunda Guerra Mundial, época em que a segregação racial era uma realidade, nos Estados Unidos e no mundo. Podemos, então, imaginar como ocorria a dinâmica social da época.
       Quando jovem, Branch Rickey, homem branco e atual dono de times de baseball, presenciou um atleta negro de alto potencial desistir de sua carreira por causa do preconceito. Mais velho, ele quis mudar essa situação. 
       Apaixonado pelo esporte, deixou de lado opiniões contra de seus assessores, técnicos e amigos para fazer de tudo para engrandecer o baseball. Assim, apostou no jogador negro Jackie Robinson e o contratou para a equipe, ciente de todos os obstáculos a serem enfrentados por cada um, por ele, pelo time e por Jackie. E essa sua atitude mudou para sempre o mundo do baseball.
       Jackie foi o primeiro negro a jogar com e contra brancos, e sua trajetória ao topo foi carregada de muito racismo. Sendo proibido de ir a banheiros, hotéis e restaurantes junto a seus companheiros de time. Como se já não bastasse isso, seus próprios colegas também o massacravam, com palavras, atitudes e gestos. O jogador foi forçado a demonstrar coragem, autocontrole e superioridade, pois qualquer atitude violenta poderia colocar os seus e os planos de Rickey água abaixo. 
       Sua forma de combater o preconceito racial da época era no campo, mostrando que negros podem e devem jogar. E foi assim que ao longo dos anos seus companheiros foram abrindo os olhos e tentando deixar o preconceito de lado. Assim como a torcida, que no início só mostrava aversão, mas com o tempo entrou em delírios com as habilidades do novato do campo.
Descrição para cegos: A imagem mostra vários jogadores de costas para a foto com o número 42 na parte de trás do uniforme.

 
       O número 42, camisa de Jackie, ficou historicamente conhecido. Ele silenciou os críticos e se destacou em campo, podendo abrir o caminho para que outros negros entrassem no esporte. No dia 15 de abril de 1997, a Major League Baseball (MBL), aposentou o número 42. Foi a primeira e única vez que qualquer número fora aposentado durante uma das quatro grandes ligas esportivas americanas de todos os esportes do mundo. Em 2007, a MBL autorizou que somente nos dias 15 de abril os jogadores pudessem usar a camisa 42, tornando a data uma celebração anual, chamada de “Dia de Jackie Robinson”.
       Esta cinebiografia foi elaborada pelo casal Brian e Karen Helgeland, que tiveram muita dificuldade em lançá-lo por não encontrarem financiadores e patrocinadores para um filme que conta a história e trajetória de um negro no esporte. A não desistência deles na produção do longa-metragem foi de suma importância, pois a exposição de histórias como essa é essencial para a representatividade dos negros no esporte.
       A população negra ainda tem muitas barreias do racismo a serem enfrentadas, e até mesmo a sua estereotipação na vida e no esporte. Mas histórias como essa nos trazem otimismo e boas perspectivas para mudanças. Cabe a cada um, independente de raça, em seu local de fala e posição, contribuir para essa transformação. É uma obrigação social de todos para que possamos caminhar até a erradicação do racismo e suas práticas.


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