segunda-feira, 29 de abril de 2019

Linn da Quebrada e o seu grito de denúncia em: "Mulher"

Descrição para cegos: Linn se encontra no dentro da imagem, com uma mão sobreposta à outra. A cantora está em um ambiente com muita sombra e está escorada em algum tipo de apoio  para orações.

Por Rorion

        Subversiva, revolucionária, travesti e negra. Essas são características de Linna Pereira, conhecida como Linn da Quebrada, cantora de funk pop da grande São Pauloque dá voz as minorias das quais ela faz parte. Com abordagem crua e sem censura, Linn versa sobre sua vivência.
        Em “Mulher”, a cantora trata de temáticas delicadas, que discutem identidade de gênero, violência e empoderamento das transexuais e travestis.

De noite pelas calçadas
Andando de esquina em esquina
Não é homem, nem mulher
É uma trava feminina
Parou entre uns edifícios, mostrou todos os seu orifícios
Ela é diva da sarjeta seu corpo é uma ocupação
É favela, garagem, esgoto
E pro teu desgosto,
Está sempre em desconstrução
Nas ruas pelas surdinas é onde faz o seu salário
Aluga o corpo há pobre, rico, endividado, milionário!”
VERSO 1

        Logo no inicio da música é explicitada a situação de marginalização desse grupo, dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das transexuais e travestis brasileiras sobrevivem economicamente através da prostituição. Realidade essa potencializada devido à negação de sua identidade e exclusão no meio em que vivem.
        A coerção social é uma arma muito poderosa, que discrimina e agride física e psicologicamente tudo que não se encontra nos padrões por ela ditado. No refrão da canção, Linn canta: “Segredo ignorado por todos e até pelo espelho”, a luta pela aceitação da identidade, que é a todo instante reproduzida de maneira negativa na sociedade.
        A intérprete adota um discurso empoderador em relação a esses corpos que possuem suas verdades ignoradas, enaltecendo a luta diária por direitos a elas rejeitados: “Bato palmas para as travestis que lutam para existir, e que a cada dia conquistam o seu direito de viver e brilhar”. No Brasil, a estimativa de vida de transexuais e travestis é de 35 anos, menos da metade da estimativa brasileira que é de 75 anos, dado fornecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Descrição para cegos: A cantora Linn está de olhos fechados com as mãos em direção ao rosto. Com grandes unhas e lábios pintados de batom.

“Ela é feita pra sangrar
Pra entrar é só cuspir
E se pagar ela dá para qualquer um
Mas só se pagar, hein! Que ela dá, viu? Para qualquer um”.
VERSO 3

       Linn denuncia constantemente durante a canção que as pessoas dessa comunidade estão sujeitas a violências, devido principalmente a prostituição, que é praticamente “empurrada” como uma das únicas alternativas de trabalho. O Brasil é o país que mais mata transexuais/travestis no mundo, de acordo com dados apurados pela ANTRA, no ano de 2017, foram 179 assassinatos, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial de mortes, com três vezes mais do que a segunda posição, México, com 56 assassinatos .
       O Brasil também se encontra em primeiro em outro ranking, em uma pesquisa realizada pelo site de vídeos adultos, PornHub. O site mostra dados que indicam que o Brasil, em 2016 e 2017 teve presente à categoria ‘Travestis’, em seu top cinco das mais procuradas (quinta e quarta posição respectivamente), pontua também que o Brasil é o país, que comparado com o resto do mundo, mais acessa essa categoria  com 89%.
       Linna Pereira finaliza a música, retratando o amor negado a elas e a suas semelhantes. Além de serem negligenciadas em todos os âmbitos sociais, também acabam por ter seus sentimentos invalidados pela imagem do “homem” que a usa somente como objeto de prazer.

“Homem que consome,
Só come e some
Homem que consome,
Que só come, fodeu e some”.
‘Outro’

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