sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os desafios de uma jornalista negra

Descrição para cegos: a foto mostra a jornalista Maria Júlia Coutinho, da Rede Globo. Ela segura um papel com o símbolo do Bom dia, Brasil e está diante de um mapa do Brasil, que está cheios de símbolos utilizados na meteorologia. Ela aponta para uma das regiões do mapa.
Por Marijane Mendes

Para ser negra e jornalista no Brasil é necessário se portar como um centroavante, alguém que está em uma posição mais avançada, aquele que chega primeiro. É necessário ser muito forte para não se deixar abater. Os olhos por muitas vezes ficam cheios de lágrimas, mas se o objetivo é ser jornalista, as dificuldades podem fazer balançar, mas não podem deixar cair.
Ao ingressar na faculdade a menina logo ouve os avisos de que não vai conseguir trabalhar na TV com o “cabelo assim”. A futura jornalista fica triste, engole seco sem saber por que tem de ouvir tudo aquilo. Quem perguntou? Ela ainda é aconselhada de que até poderia trabalhar na televisão, mas desde que seja em um programa diferente, com o segmento musical. Amuada, acaba aceitando e nem se interessa pelas aulas de telejornalismo.

As mulheres são a maioria no jornalismo, 64%. Apenas 5% das mulheres e dos homens são negros, 18% são pardos e, por fim, em nosso país ficamos apenas com 23% de jornalistas não brancos. É possível perceber o problema? Os dados são da Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj. Quase não existem mulheres negras nesse tal de jornalismo. Por isso todas elas são centroavantes, porque praticamente não existem no Brasil.
A garota negra que entrou na faculdade ouve toda a vizinhança dizer que quer vê-la na Rede Globo, apresentando o Jornal Nacional. Ela se entristece, pois como foi avisado lá na faculdade, isso nunca iria acontecer. Por que criar tanta expectativa? Não é preciso nenhuma investigação para saber que são muito poucas as jornalistas negras no Brasil, basta ligar a TV. É verdade tem a Glória Maria né? Mas ela é magra, alisou o cabelo, aquilo que chamam de traços finos. Se nem toda mulher negra no Brasil é assim, imagina entrar no pequeno grupo das jornalistas?
As mulheres negras que se lançam nessa profissão são centroavantes porque resistiram e disseram que não alisariam o cabelo. E sabe o que aconteceu? Essas mulheres não estão mais entristecidas. Quando ligamos a TV, cada dia mais podemos ver uma mulher negra no telejornal. Tem repórteres e até mesmo mulher do tempo. Elas ainda não ocupam cargos de liderança, mas até ai, nem as mulheres brancas chegaram.
Jornalista negra é centroavante, é rastafári, black power para o alto e todas as ideias no ar. Quando menos esperarmos ao ligar a TV haverá uma preta anunciando a próxima presidenta.

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