quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A luta das mulheres quilombolas do Sertão


Descrição para cegos: ilustração mostra, em primeiro plano, 3 mulheres quilombolas. A do meio segura um certificado da Câmara de Vereadores de Catolé do Rocha. A última, da esquerda para a direita, segura uma espécie de cumbuca. Em segundo plano, atrás delas, um negro idoso de perfil e um cartaz onde está escrito “Negro sim, e daí?”.

Por Luana Silva


Viviane Sousa, mestra em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas pela UFPB, concluiu seu mestrado com a dissertação que teve como título Mama África: Os Quilombos do Sertão e a Luta das Mulheres Negras de Catolé do Rocha – PB. O trabalho aborda a luta pela terra e políticas públicas para os quilombolas da região de Catolé do Rocha e como as mulheres negras ocupam posições de liderança nesses espaços.
O título relaciona as quilombolas com a música Mama África, de Chico César, que fala sobre a figura da mulher forte, que muitas vezes tem que se dividir entre os cuidar dos filhos e trabalhar fora. No decorrer do trabalho, aparecem outros trechos da poesia compositor catoleense que retratam a negritude no Sertão da Paraíba.



Viviane Sousa pesquisou os quilombos Pau de Leite, São Pedro dos Miguéis, Lagoa Rasa e Curralinho/Jatobá. Ela observou que nesses espaços o acesso às políticas públicas básicas ainda é restrito, apesar de considerável avanço na última década. Os moradores estão em constante luta pela garantia de direitos e a figura das mulheres nessa questão é nítida: entre as quatro comunidades pesquisadas, apenas uma é liderada por um homem.
Uma dessas líderes, Bidia, chegou a se candidatar a vereadora da cidade de Catolé do Rocha. Em seus discursos, ela sempre abordava a necessidade da representatividade na Câmara de Vereadores e o comprometimento na luta pelos direitos do povo negro e pobre. No entanto, a compra de votos e coronelismo político da região falou mais alto: Bidia recebeu apenas 19 votos.
Apesar do racismo e machismo enfrentado diariamente, a luta continua. As mulheres quilombolas resistem, cobrando das autoridades as demandas das suas comunidades. Muitas vezes, elas se dividem entre o trabalho doméstico, a agricultura e a liderança, em rotinas exaustivas. Por isso, Viviane Sousa as apelida de “Dandaras do Sertão”, fazendo referência à figura histórica Dandara, líder do Quilombo das Américas no período Colonial. 

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