segunda-feira, 28 de julho de 2014

O fotógrafo do Brasil profundo

Descrição para cegos: A foto retrata três indígenas, vestidos com roupas gastas e rodeados por pedaços de pau e lixo. O índio do meio está com um cocar. Ao fundo, vê-se vegetação cerrada.
“A última trincheira” é o título de um dos trabalhos mais intensos já realizados pelo fotógrafo Gabriel Ivan sobre os povos indígenas do sul do Amazonas. O fotógrafo relata em entrevista ao Hypeness , a experiência vivida por ele durante suas quatro viagens a Humaitá, e mostra um pouco do trabalho de quem manteve contato direto com a etnia Tenharim, uma parte do Brasil que ele chama de profundo. (Poliana Lemos)

ENTREVISTA HYPENESS:
Fotógrafo registra a essência dos povos indígenas do sul do Amazonas
Gabriel Ivan nasceu no Porto Velho, Rondônia, e achava que a sua vida profissional passaria pela educação física, disciplina que cursou até ao quinto ano, altura em que percebeu “que não seria feliz”. Foi aí que decidiu fazer de uma brincadeira, que começou aos 15 anos, quando a mãe lhe ofereceu uma câmera boliviana, a sua verdadeira forma de vida. Hoje é fotógrafo profissional e autor de um dos registros mais intensos das etnias indígenas do sul do Amazonas.
A história de Gabriel na rodovia Transamazônica começa com o caso que abalou a região no final de 2013 e início deste ano. Cinco índios da etnia Tenharim foram acusados do assassinato de três homens não-indígenas desaparecidos no local, alegadamente por vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim. No entanto, a tensão na região não é nova e vem desde a construção da rodovia, proclamada como um sinal de progresso do Brasil na década de 70, e que atravessa a terra habitada pelo povo Tenharim.
A ferida aberta nessa época jamais foi sarada e a recente morte dos três homens, quando atravessavam a reserva Tenharim na Transamazônica, reacendeu o rastilho. Os ataques aos indígenas se sucederam, com casas destruídas e famílias obrigadas a procurar refúgio fora das suas terras.
A convite da Mídia Ninja, Gabriel Ivan fez quatro viagens até Humaitá, que resultaram em um contato direto com as pessoas e com “a diversidade presente na região: todos os costumes, as crenças e as múltiplas habilidades dos indígenas”. O Hypeness foi falar com ele sobre o projeto, a vida destes povos e os desafios que eles enfrentam. Venha conhecer “A Última Trincheira”.
Hypeness (H) – Qual foi o maior desafio de fotografar no sul do Amazonas?
Gabriel Ivan (GI) – O maior desafio na região foi a resistência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que transitava e se fazia presente em todos os pontos da Transamazônica, por conta das investigações realizadas naquele momento. Não tive nenhum problema em fotografar dentro das aldeias, pelo contrário, fui sempre muito bem recebido em todas pelas quais transitei. Chegamos a dormir, tomar banho e se alimentar em algumas delas, especialmente as aldeias dos Tenharim Marmelo e Trairí.
(H) – A ideia era retratar a realidade em que os Tenharim vivem, para lá do conflito?
(GI) – Sim, eu busquei a todo o instante retratar o cotidiano no qual eles vivem, porém o clima naquele momento era outro, diria diferente. Muitos ainda sofriam com o trauma das invasões (especialmente as crianças), alguns ainda estavam doentes ou machucadas, por conta de terem se jogado na floresta no momento dos ataques. Eu precisava retratar isso, mas tinha consciência de que deveria existir uma linha tênue neste processo. Os Tenharim são uma etnia extremamente sorridente, alegre e simpática, e eu também tinha obrigação de transpor isso, independente do momento ali vivido...

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