quarta-feira, 10 de abril de 2019

Mulheres indígenas e o parto


Descrição para cegos: Na imagem há mulheres indígenas dando a luz de cócoras, segurando seus bebes e ao fundo há outros indígenas observando esse momento.
Por Iasmin Soares
       O parto é um ritual em qualquer cultura, seja ocidental ou oriental, é algo natural da espécie humana. Mas algumas mulheres são invisibilizadas enquanto a sua forma de parir, de gestar e do seu puerpério, é o caso das mulheres indígenas.

     
       As mulheres indígenas, de diversas etnias por todo o Brasil, têm formas diferenciadas de gestar, parir e ficar de resguardo. Mas uma coisa as une, o parto natural, de cócoras. A mãe e seu sangue são responsáveis pela carne, sangue e gordura do filho, enquanto que o pai é o responsável pelo espírito, medula e os ossos do bebê. A maioria das indígenas prefere parir em suas casas, entretanto algumas mulheres que tem gravidez de risco ou porque preferiram ter seus filhos no hospital, devem ir ao hospital mais próximo.

       Porém, o ambiente hospitalar é hostil para as mulheres indígenas. A medicina convencional não respeita a individualidade, a tradição, cultura e saberes dessas mulheres. Quando a gestante escolhe parir em um hospital, na maioria das vezes sofre violência obstétrica, desde exames de toques, que para a tradição dos povos indígenas é invasivo e constrangedor, até a negação do contato pele a pele entre mãe e bebê, no primeiro instante do nascimento.

       Quando a mulher indígena descobre que está gerando um filho, logo começa uma jornada de comportamentos do que se deve ou não ter. No período da gestação, as grávidas não podem comer carne de macaco ou carne de peixe que se assemelhe a cobra, os indígenas acreditam que o bebê pode adquirir o comportamento do animal que a mãe está ingerindo.

       Os banhos terapêuticos com ervas ajudam a mais nova mãe a ter um parto bom, com o bebê bem posicionado e sem complicações. As gestantes que foram mais ativas, que trabalhavam na agricultura e nos serviços domésticos, supostamente vão ter um parto melhor do que as que somente trabalhavam no serviço doméstico.

       Aquele relato oral, que a gente escuta, de que não se deve negar algo a uma gestante vem justamente das tradições indígenas, assim como o comportamento de não deixar a grávida com desejo, para que o feto não seja prejudicado.

       A família tem um papel de extrema importância na gestação e no parto. Na gestação, auxilia a mulher grávida a não “passar desejo” e nos banhos. Já no parto, as mulheres mais velhas, que tomam a frente, e auxiliam a parturiente em todo o processo. O pai tem o dever de auxiliar a sua esposa, seja nos banhos terapêuticos, a realizar os desejos da sua companheira e no trabalho de parto dando literalmente força em forma de energia que passa de sua mão para a mão da gestante.

       A parturiente começa a sentir as primeiras contrações, mas permanece fazendo seus deveres e não diz a ninguém, só depois o marido é contatado e chama as mulheres mais velhas da família que sabem partejar ou a parteira da tribo para auxiliar sua esposa no trabalho de parto.

       Em algumas aldeias, o “parteiro espiritual” também é chamado, ele faz orações e cantos para que ocorra tudo bem. Massagens são feitas na barriga da nova mãe para saber se o bebê está posicionado da maneira correta, algumas tribos usam óleo de amêndoas e outras usam banha de galinha, massagens atrás das costas na região lombar também são executadas para ajudar no processo das contrações. O período expulsivo chega e logo depois vem a criança, em algumas etnias o pai quem corta o cordão, em outras a mãe e as parteiras. Para as mulheres indígenas, o contato com sua cria é de suma importância, pois traz confiança e recompensa.

       O relativismo cultural precisa ser exercido e não devemos dar “pitáco” na forma que essas mulheres devem ou não ter seu parto. Elas fazem isso há anos, o que precisamos é aprender e respeitar. Parir é ancestral.

  

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