quarta-feira, 3 de abril de 2019

A marginalização do funk na periferia e a glamourização na elite

Descrição para cegos: A imagem mostra uma multidão no baile da gaiola, que acontece na Penha comunidade da cidade do Rio de Janeiro.

Por Michelly Santos


       As rachaduras feitas na história, nos mostra nitidamente os dois pesos e duas medidas remetidos à cultura negra em contrapartida com tudo que compõe a branquitude na sociedade. O Funk, Hip-hop, Rap, samba; a musicalidade e as nuances genuínas do povo negro são criminalizadas, caso sejam produzidas para consumo no ambiente periférico e para pessoas negras. Nesse contexto é inserida a diferença, quando é feita para a comunidade e quando é ampliada para além dela.

       Marginal, palavra muito usada para desqualificar pessoas, pôr em patamar de periculosidade. Na maioria das vezes, os atores das histórias marginais são negros e pobres. Porém no dicionário Aurélio, significa o que está às margens dealguma coisa. Todos os arranjos e o tudo que constitui o cenário negro no Brasil é considerado para delinquentes.
       A história muda quando outros personagens começam a usufruir. A batida envolvente e dançante chegou no asfalto limpo e na comodidade de civilização da zona sul.  As casas de show e boates redefiniram suas playlists e as alimentaram com letras de vivência periférica. O privilégio branco ecoa de forma tranquila com a bebida mais cara em uma mão e o cigarro em outra. Eles proferem quão bom é ser da favela. O contexto mudou e a qualificação atribuída à cultura também.
       Pessoa negra que usufrui da sua própria cultura é taxado como marginal, criminoso, favelado, mas a pessoa branca que se apropria do ambiente e vivência negra é cult.
       Mas não para por aí, existe os que “enfrentam” essa realidade de perto. Sobe o morro, entra em um baile fechado que custa um valor que muitos moradores do local não ganham nem mesmo em uma semana de trabalho. Mas vale pela experiência exótica. É assim que o turismo vende a favela, como um ambiente exótico. Mas não é de se surpreender, as agências ficam, imagina onde?! Na perifa que não é.
       É importante dizer que o problema não está no consumo da música por pessoas que não fazem parte da construção dela, mas na criminalização de uns e glamourização de outros.
       Quantas manchetes já não lemos sobre confusões em bailes funks? Todas as coisas vinculadas das festas na periferia são noticiadas de forma sensacionalistas. São sempre pessoas que morreram, drogas, ataques da polícia com balas de borracha e spray de pimenta. Tudo é moldado de forma para que a espetacularização se faça presente. A óptica usada é a racista e preconceituosa, a que desvaloriza os atores da própria cultura.
       Quem dera que os bailes na periferia fossem vendidos da mesma forma que são divulgados os do asfalto.

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