segunda-feira, 8 de abril de 2019

8 de abril é o dia internacional dos Ciganos, mas eles não têm muito o que celebrar

        Por Sofia Debbaudt

        No dia (08) de abril é celebrado o Dia Internacional do Cigano, um povo que luta contra o preconceito e discriminação e pelo direito à preservação da sua cultura, memória e história.

Descrição para cegos: A imagem mostra a bandeira do povo cigano, em destaque em uma manifestação. 


       Essa data foi escolhida em 1972, data que ocorreu o primeiro encontro internacional de ciganos, na Inglaterra. Assim, o dia (08) de abril foi institucionalizado pela ONU como data comemorativa.

       A história do povo cigano é carregada de incertezas, suposições e controvérsias, pois são ágrafos, ou seja, passam seus conhecimentos e experiências por meio oral, sem registrar por meio da escrita. Além de não darem importância a esses registros, não há esforços para manterem e irem atrás do passado, assim como não há para manterem-se unidos hoje. Por isso, muito da sua trajetória se perdeu, e é carregada de mitos e contada pelos brancos. Não podemos encontrar documentos e registros que expliquem suas origens e costumes.

      O universo dos ciganos é tão antigo, extenso, bombardeado de crenças e mitos que nem mesmo eles conhecem bem. Não sabem ao certo o que é verdade e o que é lenda. São povos de origem diferente, cores, crenças, religiões, costumes e rituais que acabaram sendo abrigados por esse mundo incerto e adaptável.

     Definir a identidade cigana é outro desafio. Não são nada homogêneos, são subdivididos em três principais etnias, Rom, Calon e Sinti, e não carregam nenhum estereótipo sólido, pois nem todos são nômades, falam romani, usam roupas coloridas e são pobres. Eles são livres, podendo ser cristão, muçulmanos, judeus ou o que quiserem. O que têm em comum é a sensação de não serem um “não cigano”.

      Os que o tornam ciganos é o espírito viajante, que mesmo não nômades, ainda carregam o sentimento de não pertencerem a um só lugar. O costume de não criar raízes, não tendo noção concreta de propriedade, e de não gostar a submeterem-se às leis e regras. É um povo que valoriza a liberdade.

      Por isso, questiono se há realmente motivo de celebração. Ao mesmo tempo que se apega aos princípios da liberdade, a população cigana é uma das minorias étnicas que mais sofre discriminação e exclusão social do mundo.

       Essa população carrega na sua história uma bagagem de preconceitos, advindos dos estereótipos inventados e da desinformação pública. Por onde passaram, independente de época, a exclusão e o repúdio os acompanharam. Sendo negligenciados até hoje pelos poderes públicos, eles enfrentam barreiras diárias para ter acesso à educação, habitação, aos serviços sociais e ao trabalho.
Descrição para cegos: A imagem mostra um grupo em uma manifestação exigindo direitos ao povo cigano, com várias placas e uma grande faixa que diz “Direitos humanos aqui, direitos de Roma agora”.
 
       Os direitos humanos são violados fortemente em relação aos ciganos e sua perseguição está longe do fim. Por isso, não há motivo de celebração. O dia (08) de abril é dia de conscientização e luta.

       É preciso mudar essa realidade para que se crie perspectiva real de liberdade, instalando políticas públicas de promoção da cidadania cigana, abrindo espaço para debates, produção de conhecimento e informação acerca das desmistificações desse povo. Nós precisamos enxergar realidades diferentes da nossa e parar de querer que todos se encaixem em nossos ideais. 

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