terça-feira, 19 de março de 2019

Desfile da Mangueira traz a história dos ausentes do Brasil


Descrição para cegos: Na imagem aparece a bandeira do Brasil com as cores da escola de samba Mangueira. O retângulo com a cor rosa, o losango da cor branca, o círculo com a cor verde e uma a lista em cima do círculo na posição horizontal com as palavras: índios, negros e pobres na cor rosa. (fonte: Ecologia dos saberes)

Por Michelly Santos


       Já era madrugada do dia (5) de março de 2019, terça-feira de carnaval, quando a Estação Primeira de Mangueira entra na Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro. O desfile da verde e rosa era um dos mais esperados pelo o público, desde que lançaram o samba-enredo da escola fluminense, já emocionara boa parte das pessoas que ouviram e se identificaram com a canção. 


       No momento do desfile, as redes sociais se encheram de mensagens e surpresa pela grandiosidade da escola. A mangueira foi parar no trend topics do twitter, ou seja, um dos assuntos mais comentados do Brasil. Entre cada ala, carro alegórico, suor, choro de alegria e emoção, foi contada de forma guerreira a história daqueles que não estão nos livros, que não estão nas conversas diárias sobre as grandes heroínas e os grandes heróis do povo brasileiro, não estão nas escolas, não estão nas provas de vestibular e não estão no consciente do povo.

       O que faz com que hoje, no Brasil, a população negra e indígenas estejam  à mercê e marginalizadas devido a anulação das vivências e raízes dos que já estavam aqui. O embranquecimento da população tirou e ainda tira a identidade e pertencimento de mundo da maior parte da população brasileira.

        No desfile, os europeus foram retratados como invasores e não descobridores de um território que já estava habitado. Foi de arrepiar o retrato feito pela comissão de frente. Nela, estava representada a lacuna da participação dos povos negros e indígenas na história do Brasil e a valorização da história dos europeus em contrapartida dos povos que já habitavam aqui. 

        No decorrer da apresentação, é mostrada as  histórias de resistência dos nativos e do povo negro. Nesse momento, surge uma homenagem à Marielle Franco, representada por uma menina negra que sai do que estava representando a casa grande, ela encontra com os indígenas e negros, demonstrando o pertencimento da sua história, ancestralidade e cultura. Depois disso, ela abre um livro que se transforma no nome da Marielle. 

       Cada carro alegórico levou à Marquês de Sapucaí uma militância explosiva e admirável. O pertencimento das terras pelo os povos indígenas e o grito de existência de uma história antes de 1500, contada do ponto de vista avesso ao europeu e com atuação efetiva dos índios na história. O genocídio indígena, o endeusamento dos bandeirantes retratado por um carro alegórico todo em vermelho, tendo o nome da FUNAI e de vários povos indígenas pelo Brasil posto em cruz. A Mangueira também fez um tributo ao abolicionista negro, Luís Gama, abordando a intelectualidade do povo negro em várias alas. 

       A bateria na parte dos anos de chumbo fazia uma parada para que a escola e a plateia pudessem cantar: “Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês”, como uma aclamação para a forças dessas mulheres revolucionárias. 
O carnavalesco, Leandro vieira, para a transmissão da TV Globo disse que a Mangueira levou para o desfile: “Um olhar para história do Brasil, interessando nas páginas ausentes. História de índios, negros e pobres, heróis populares que não foram para os livros, os heróis que não aprendemos na escola. Tereza de benguela, Sapé Tiaraju, Dandara que não tiveram protagonismo.”  

       Para deixar nítido a lutas das pessoas negras que foram escravizadas com o fim da escravidão, a Mangueira colocou no samba-enredo: Dandara, guerreira que lutou pela liberdade de seu povo; o Dagrão do mar de Aracati e Chico da Maltide, que foi o líder dos jangadeiros nas lutas abolicionistas, impedindo o comércio de escravos nas praias do Ceará. 

       A importância do desfile da mangueira é inquestionável, mais do que um desfile, foi um ato político, envolvendo diversas narrativas e linguagens. Em tempos que a população sofre com as consequências dessas lacunas abertas, precisamos reconhecer a força de mulheres como Marielle Franco e de todos que lutam pelo direito de pertencimento da história da qual deles foi roubada. 

Confira um trecho do Samba enredo da Mangueira:
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati”

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