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Descrição para cegos: a imagem mostra o rosto de um homem negro e uma mão branca na frente do seu rosto. |
Foto: Pixabay
Não
sou negra, mas venho de uma família de negros e brancos, e apesar de
nunca antes ter testemunhado um ato de racismo, o tema sempre me
chamou atenção - talvez com menos importância que hoje. Nunca
consegui entender porque as pessoas se importam tanto com a cor da
pele, até o dia em que vi um rapaz ser humilhado em seu ambiente de
trabalho, apenas por não ter nascido branco. O título deste texto
foi retirado da boca de uma senhora, a qual é a “inspiração”
deste escrito.
Aos
berros a mulher xingava o cobrador, por ele não ter permitido que
ela entrasse e saísse de um terminal de integração sem pagar outra
passagem. Ele tentava explicar que foi a ordem que recebeu e que se
ela insistisse, a passagem sairia do seu bolso e ele seria
prejudicado. Nesse exato momento comecei a perceber que ela não
estava com raiva do funcionário, mas do negro que “cruzou” o seu
caminho naquela noite. “Negro, sujo! Negro devia não ter emprego,
porque não sabe trabalhar. Só nasceu pra ser escravo mesmo”,
gritava a mulher.
Além
da raiva que tomou conta de mim, senti uma enorme vergonha. Vergonha
por ser branca, vergonha por não ter feito nada no momento, vergonha
por sentir pena do rapaz, vergonha por pertencer a essa sociedade que
aceita o negro, que tem amigos negros, contanto que não estejam em
suas famílias.
Hoje
percebo que o rapaz não precisa da minha pena, não precisa da minha
vergonha. Os negros precisam sim, que eu entenda o preconceito que me
rodeia, entenda que o racismo tem que ser combatido, que o negro não
era escravo, mas foi escravizado.
Minha
função é retirar as cortinas que encobrem as janelas do racismo, e
eu começo por esse texto.
Poliana
Lemos
Ótimo texto.
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