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Descrição para cegos: a ilustração mostra uma jovem negra de óculos e cabelos cacheados. |
Por Marijane
Mendes
Ao caminhar com algumas amigas de curso dentro na
Universidade Federal da Paraíba, onde funciona a feira agroecológica, recebo
uma agressão gratuita e injusta de um senhor aparentando uns 60 anos de idade.
Seu nome é Saulo Xavier Batista, economista e ex-professor da UFPB. Ele estava
em uma barraca que vende tapiocas. Ao me ver passar, fez os seguintes
comentários: “ Olha aquela nêga lá. Um cabelo desse até rato deve ter. Se ela
tomasse um banho eu até teria alguma coisa”. Confesso que foi a primeira vez
que sofri esse tipo de ofensa tão humilhante, o que a lei qualifica como injúria
racial.
Vivenciei um momento de plena materialização de um discurso
opressor que causou em mim uma grande dor. Nem a minha segurança enquanto
mulher negra, nem a minha autoestima quanto a beleza do meu cabelo foram
abaladas, mas o discurso opressor me fez refletir sobre o sentimento de incômodo
que o cabelo crespo/cacheado causa em algumas pessoas. A minha experiência não
é um fato isolado, diversas mulheres negras sofrem com o racismo todo santo dia.
Sou uma jovem negra, curso Jornalismo na UFPB. Estudei em uma das melhores escolas da minha cidade, não ingressei na universidade pelo regime de cotas, sou independente financeiramente desde muito cedo. Mas nada disso me impede de sofrer racismo cotidianamente. Comentários do tipo: “esse cabelo não combina com você”, “Ah eu preferia seu cabelo como era antes”, “Você deveria dar uma pranchinha nesse cabelo” “Você vai com esse cabelo assim?”
Sou uma jovem negra, curso Jornalismo na UFPB. Estudei em uma das melhores escolas da minha cidade, não ingressei na universidade pelo regime de cotas, sou independente financeiramente desde muito cedo. Mas nada disso me impede de sofrer racismo cotidianamente. Comentários do tipo: “esse cabelo não combina com você”, “Ah eu preferia seu cabelo como era antes”, “Você deveria dar uma pranchinha nesse cabelo” “Você vai com esse cabelo assim?”
Nada impede que mulheres negras sofram racismo disfarçado de
que é apenas uma opinião, de que estamos nos fazendo de vítimas, nada impede o
sofrimento dessa violência.
O racismo no Brasil é produzido e reproduzido através do mito
da democracia racial, que encoraja a sociedade a acreditar que ele foi
superado. A situação que eu passei foi coisa da minha cabeça? Ou, como o
próprio agressor disse: “foi apenas uma brincadeira”. Ele é louco, disseram
alguns. Não existe loucura no racismo. Dentro da lógica racista eu não tenho o
direito de existir. O meu cabelo crespo muito menos.
Ser uma mulher negra incomoda, cursar jornalismo onde a
maioria dos profissionais são brancos incomoda, ter o cabelo crespo incomoda,
principalmente porque o meu comportamento e a minha imagem formam opinião. O
que eu tenho a dizer para este racista, e todos os outros, é que eu continuarei
existindo. E o meu cabelo e toda a sua crespura também. Ninguém pode tirar de
mim o que conquistei a duras penas. Eu e meu cabelo continuaremos incomodando toda
a ideologia racista que é sustentada.
Linda mais que demais,não entendo o RACISMO
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